Entroncamento

Entroncamento

terça-feira, 10 de março de 2015

O roteiro




Um início

Retiramos um trecho inicial de uma das versões do roteiro que utilizamos para começar a fazer o storyboard do filme (planificação através de desenhos). 







SEQUENCIA 01: INT/DIA/PRÉDIO

(As imagens dessa sequência são em tons azuis acinzentados)

Tela preta. Créditos iniciais.

A porta de um elevador abre lateralmente descortinando a imagem: pelo espelho interno do elevador, um homem de meia idade se vê entrando no elevador e apertando o botão do 13º andar. A porta se fecha atrás dele. O homem permanece olhando o seu reflexo no espelho até chegar bem próximo para examinar dentro dos seus olhos. Pelos olhos ele vê sua imagem duplicada ao infinito.

Título do filme: Entroncamento


O homem se afasta e percebe a câmera de segurança do elevador. Ele se conserta e se vira para a porta. O elevador chega no andar e ele sai. No corredor ele fica indeciso a respeito de qual apartamento deve entrar até que ele se decide pelo 1301. Ele caminha até a porta do apartamento e ao pegar as chaves, se detém em uma cicatriz no seu dedo polegar. A imagem torna-se microscópica e a cicatriz ganha contornos de um precipício. O som do seu coração se torna mais forte e acelerado.  Após um instante, o som retorna ao normal assim como o tom azulado da imagem e o homem retoma a respiração como num susto. O homem abre a porta do apartamento e a fecha atrás de si ofegante e olha novamente a cicatriz no dedo. A campainha toca. Ele se assusta. O homem olha pelo olho mágico e vê um casal (esses personagens tem uma aparência fantasmagórica). Ele observa o casal sem abrir a porta. Impaciente, a esposa toca novamente a campainha. Ele fica atrás da porta pensando até resolver abrir.


HOMEM
Sim?

MARIDO (olhando um cartão de visitas de corretor imobiliário)
Wellington Vieira?

HOMEM
Sou eu.

MARIDO (um pouco desconfiado e exibindo o cartão)
Somos Ricardo e Cecília. Nos falamos por telefone. Combinamos de ver o apartamento.

WELLINGTON VIEIRA (confuso)
Ah, sim, claro! Sejam bem vindos.

Ele abre mais a porta e deixa eles entrarem.


(A FUNÇÃO DESSE DIÁLOGO É FAZER O ESPECTADOR ENTENDER QUE ELE ESTÁ ESQUECENDO DAS COISAS

ESSES PERSONAGENS PODEM SER FANTASMAGÓRICOS APENAS NA VISÃO DE WELL)*

MARIDO
É nascente?

Wellington Vieira olha para a mulher sem saber como responder a pergunta.  O casal se entreolha. Ele olha pela varanda, o sol ofusca suas vistas e responde.

WELLINGTON VIEIRA
Poente. Querem ver os quartos?

...

* essa observação em caixa alta só consta nesse roteiro, que é um roteiro de processo.



O arquivo data de 01/02/2014, há mais de 01 ano atrás. De lá pra cá, muitas mudanças, mas mantivemos as mesmas intenções, só viemos amadurecendo o que pensávamos. Um primeiro corte radical: o filme teria muito pouco diálogo. Uma escolha por narrar o filme através das ações e da materialização das sensações do personagem, que nesse tratamento se chamava Wellington Vieira, mas que se tornou Wilton Vieira, o Will. Um outro direcionamento: nos cai nas mãos um livro que ampliou a nossa capacidade de ver o trabalho que fazíamos, propondo uma mudança de lugar, fazendo com que fossemos mais radical na investigação de Will. O filme não se trataria mais de um homem que saiu do interior rumo à capital na tentativa de mudar de vida, mas que em uma crise de identidade retorna à casa dos pais para reencontra-la. Enxergamos nessa sinopse um redução da real possibilidade de se tratar de um filme que aponte para uma busca interior mais profunda de um homem que, ressentindo-se do seu passado, acredita encontrar respostas retornando novamente para ele, sem perceber que a resposta para seus medos e inquietações está no aqui e agora, em um presente entendido como fluxo. 

Agora, no processo de fazer a trilha para o filme, João Meirelles, compositor da música do curta, nos pediu o roteiro para ler. Mas isso, nessa etapa do processo, foi impossível. O roteiro passou a ser um roteiro confeccionado na ilha de edição, através do animatic, um esboço do filme em imagem e referências sonoras, que foi se transformando no decorrer do filme, afim de se ajustar as possibilidades de produção e ao fortalecimento da narrativa. 







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