Entroncamento

Entroncamento

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Entroncamento, por Tiago Oliveira, um dos animadores

Animação

Depois das etapas, chegamos na hora de fazer animação propriamente dita. Só dá pra começar as movimentações dos personagens depois de iniciadas as etapas dos posts anteriores: storyboard, definição dos personagens e dos cenários.


Primeiro, o storyboard vai indicar que ação o personagem está fazendo e em quanto tempo ele faz. Lembrando que o storyboard ainda não tem compromisso com o visual final do filme, tanto dos personagens como dos cenários. É mais pra ir determinando esse ritmo das ações. Esse é o trecho que vamos usar como exemplo:




Aqui vemos que uma menina abre uma porta, dá poucos passos dentro da casa, para e olha na direção do outro personagem que entrou também. 
Esse vai ser o movimento dela, mas de modo geral.  A animação vai mostrar se ela empurra a porta com força ou devagar, como ela anda, como ela olha, etc.

Precisamos também dos modelos finais do personagem antes de começar, para que todos nossos desenhos sigam ao máximo as formas e proporções dos personagens. Aqui está o modelo final que foi elaborado para esse personagem:




Mas nem sempre o animador tem que esperar tudo mais ficar pronto para começar. Por exemplo, para essa cena poder ser animada, bastou uma definição geral de como era o cenário, onde ficaria a porta, o tamanho dela, etc. O cenário todo pronto estava sendo feito e só entrou depois.


A partir disso começa-se a definir concretamente como serão os movimentos. É quando surgem as poses-chave ou keyframes: são os desenhos mais importantes do personagem atuando, que melhor definem aquele movimento. Todos os outros desenhos seguirão esses.  A depender de como é a produção, podem ser determinados pelo diretor do filme, por um diretor de animação ou o próprio animador responsável pela cena.

Esses foram os primeiros desenhos das poses-chave:




Agora já estabelecemos algumas escolhas - como ela anda, quanto tempo dura cada passo, determinamos que ela começa a se virar ainda enquanto anda, etc. Começamos só rascunhando, porque trabalhar em etapas ajuda a evitar erros. A gente vê se a animação está funcionando como um todo, antes de ir colocando mais poses - ainda rascunhando:




Lembrando que sempre com atenção se as formas e proporções dos personagens estão seguindo os modelos. Se estiver tudo ok, podemos adicionar mais detalhes cada uma das poses:


Agora já temos mais claras as expressões e os movimentos. Fizemos algumas mudanças nos braços balançando pra ficar mais legal.

E vamos começando a adicionar mais desenhos entre essas poses-chaves (são chamados intervalos). que já existem, sempre dando play e conferindo como está ficando.



Pra terminar, mais uns intervalos , pra deixar o movimento mais fluido, mais acreditável. 


Depois disso, a cena segue para finalização, onde vai receber as cores de preenchimento e de sombra, de acordo com os estudos de cores do filme.

E isso tudo só para esse personagem da menina. Ainda nessa cena, o outro personagem também entra pela porta, logo depois dela. Ele foi animado por outro animador, então as vezes pode acontecer de a cena não ficar pronta toda de uma vez. E teve também a animação completa dessa porta abrindo e da luz que entra na sala.


quarta-feira, 11 de março de 2015

Referências

Como referências diretas temos dois filmes:

1) A animação Old Fangs: https://vimeo.com/6757600







2) O longa Spider, de David Cronenberg: 
https://www.youtube.com/watch?v=uTe1xiBzAws





Estudo de Cor





Estudo de personagens




















Desenhos



Antigos











Atuais







Equipe


Direção e roteiro: Maria Carolina e Igor Souza

Direção de animação: Mateus Di Mambro
Desenvolvimento de personagens: Mateus Di Mambro
Desenhista de cenário e cor: Maíra Moura Miranda
Animadores: Mateus Di Mambro, Luiz Batalha, Tiago Oliveira.
Preenchimento de cor e sombra: Marcelo Vitz 
Estagiária: Liliane Souza
Música: João Meirelles
Voz Will:
Voz pai de Will: Fábio Costa
Voz mulher: Ana Cartaxo
Voz menina: Ana Cartaxo
Mixagem: Nuno Penna
Folley: 

Storyboard



Esse já é um storyboard de execução do filme e não aquele que apresentamos na etapa de seleção do edital. Esse já é mais detalhado, com a história sendo contada por planos, ao contrário do outro que é mais os desenhos gerais da história. Usamos o programa celtx para fazer, porém esse programa não tem todos os planos definidos como costumamos chamar no Brasil. 

O stoyboard é a primeira peça para trabalharmos depois do roteiro. Nele materializamos o desenho da história a ser contada. Nessa versão os desenhos não são os definitivos, apenas esboços para trabalharmos com o nosso diretor de animação e desenhista de personagens, Mateus Di Mambro, e a nossa desenhista de cenário, Maíra Miranda. A partir do storyboard caminhamos para desenvolver a peça que será a peça essencial e orientadora de todo o processo: o animatic.

terça-feira, 10 de março de 2015

O roteiro




Um início

Retiramos um trecho inicial de uma das versões do roteiro que utilizamos para começar a fazer o storyboard do filme (planificação através de desenhos). 







SEQUENCIA 01: INT/DIA/PRÉDIO

(As imagens dessa sequência são em tons azuis acinzentados)

Tela preta. Créditos iniciais.

A porta de um elevador abre lateralmente descortinando a imagem: pelo espelho interno do elevador, um homem de meia idade se vê entrando no elevador e apertando o botão do 13º andar. A porta se fecha atrás dele. O homem permanece olhando o seu reflexo no espelho até chegar bem próximo para examinar dentro dos seus olhos. Pelos olhos ele vê sua imagem duplicada ao infinito.

Título do filme: Entroncamento


O homem se afasta e percebe a câmera de segurança do elevador. Ele se conserta e se vira para a porta. O elevador chega no andar e ele sai. No corredor ele fica indeciso a respeito de qual apartamento deve entrar até que ele se decide pelo 1301. Ele caminha até a porta do apartamento e ao pegar as chaves, se detém em uma cicatriz no seu dedo polegar. A imagem torna-se microscópica e a cicatriz ganha contornos de um precipício. O som do seu coração se torna mais forte e acelerado.  Após um instante, o som retorna ao normal assim como o tom azulado da imagem e o homem retoma a respiração como num susto. O homem abre a porta do apartamento e a fecha atrás de si ofegante e olha novamente a cicatriz no dedo. A campainha toca. Ele se assusta. O homem olha pelo olho mágico e vê um casal (esses personagens tem uma aparência fantasmagórica). Ele observa o casal sem abrir a porta. Impaciente, a esposa toca novamente a campainha. Ele fica atrás da porta pensando até resolver abrir.


HOMEM
Sim?

MARIDO (olhando um cartão de visitas de corretor imobiliário)
Wellington Vieira?

HOMEM
Sou eu.

MARIDO (um pouco desconfiado e exibindo o cartão)
Somos Ricardo e Cecília. Nos falamos por telefone. Combinamos de ver o apartamento.

WELLINGTON VIEIRA (confuso)
Ah, sim, claro! Sejam bem vindos.

Ele abre mais a porta e deixa eles entrarem.


(A FUNÇÃO DESSE DIÁLOGO É FAZER O ESPECTADOR ENTENDER QUE ELE ESTÁ ESQUECENDO DAS COISAS

ESSES PERSONAGENS PODEM SER FANTASMAGÓRICOS APENAS NA VISÃO DE WELL)*

MARIDO
É nascente?

Wellington Vieira olha para a mulher sem saber como responder a pergunta.  O casal se entreolha. Ele olha pela varanda, o sol ofusca suas vistas e responde.

WELLINGTON VIEIRA
Poente. Querem ver os quartos?

...

* essa observação em caixa alta só consta nesse roteiro, que é um roteiro de processo.



O arquivo data de 01/02/2014, há mais de 01 ano atrás. De lá pra cá, muitas mudanças, mas mantivemos as mesmas intenções, só viemos amadurecendo o que pensávamos. Um primeiro corte radical: o filme teria muito pouco diálogo. Uma escolha por narrar o filme através das ações e da materialização das sensações do personagem, que nesse tratamento se chamava Wellington Vieira, mas que se tornou Wilton Vieira, o Will. Um outro direcionamento: nos cai nas mãos um livro que ampliou a nossa capacidade de ver o trabalho que fazíamos, propondo uma mudança de lugar, fazendo com que fossemos mais radical na investigação de Will. O filme não se trataria mais de um homem que saiu do interior rumo à capital na tentativa de mudar de vida, mas que em uma crise de identidade retorna à casa dos pais para reencontra-la. Enxergamos nessa sinopse um redução da real possibilidade de se tratar de um filme que aponte para uma busca interior mais profunda de um homem que, ressentindo-se do seu passado, acredita encontrar respostas retornando novamente para ele, sem perceber que a resposta para seus medos e inquietações está no aqui e agora, em um presente entendido como fluxo. 

Agora, no processo de fazer a trilha para o filme, João Meirelles, compositor da música do curta, nos pediu o roteiro para ler. Mas isso, nessa etapa do processo, foi impossível. O roteiro passou a ser um roteiro confeccionado na ilha de edição, através do animatic, um esboço do filme em imagem e referências sonoras, que foi se transformando no decorrer do filme, afim de se ajustar as possibilidades de produção e ao fortalecimento da narrativa.